sábado, 12 de fevereiro de 2011

Francê.

"Foi como uma aparição.

Ela estava sentada, sozinha, no meio do
banco; pelo menos, ele não distinguiu mais
ninguém, cego pela luz que lhe emanava dos
olhos. Quando passava, ela ergueu a cabeça;
Frédéric, involuntariamente, vergou os
ombros; e, sentando-se mais adiante, do
mesmo lado, ficou a olhar para ela.

Nunca vira tal esplendor de pele morena,
sedução igual à daquela cintura, nem dedos
tão finos com os dela, que a luz
atravessava. Olhava com pasmo para a
cestinha de costura, como se fosse uma
coisa extraordinária. Como se chamaria,
onde morava, qual seria a sua vida, o seu
passado? Desejava conhecer os móveis do
quarto dela, todos os vestidos que ela usara,
as pessoas que frequentava; e o próprio
desejo carnal da posse desaparecia perante
uma aspiração mais profunda, numa
curiosidade dolorosa que não tinha limites".

(trecho de Educação Sentimental, de Flaubert)